Todos já sabem que Geoart é uma série de geocaches publicados para criar uma imagem quando vistos no mapa.
Os que existem na pequena cidade de Cambará do Sul no Rio Grande do Sul são dois dos diversos desenhos que temos no mapa da América do Sul.
Ali você vê uma bela “Cuia” (copo artesanal distinto, feito geralmente de uma carapaça de uma planta local) de “Chimarrão” (bebida característica da região sul, de erva-mate, ela é consumida tradicionalmente desde os povos originários).
Esta é uma coleção de 18 caches mistério chamada “Municípios do Rio Grande do Sul“, onde em cada um é necessário descobrir qual é o município do estado, a partir da descrição narrada.
Ao lado desta, o segundo geoart “Aves de Cambará do Sul” é um desenho estilizado de uma ave, composto por 46 geocaches Mistério e Letterbox, são também simples de resolver, e com informações úteis, pois diversas destas aves você acabará vendo e identificando, se topar fazer esse incrível passeio nestes locais de insigne beleza natural.
O início do Tour
Após olhar estes desenhos, resolvi planejar um Danger_Tour para achar este monte de caches tão distante de casa.
Pegamos um voo para Porto Alegre, onde ficamos dois dias passeando pelos principais locais em busca dos diversos caches. Centro histórico, Gasômetro, Cidade Baixa… Zeramos o Parque Farroupilha.
Infelizmente a situação de pandemia impediu de fazermos um evento e reunir a gauchada. Apesar disso, nos encontramos com o Capitão Cavendish, um dos donos dos caches dali.
Depois de alugar um carro seguimos por 200 km até Torres, onde ficamos por mais um dia e descobrimos um dos Earthcaches mais belos que já vi. Nas trilhas cênicas da Praia da Guarita.
GC3AHZ1 Praia da Guarita – Torre do Centro / Earthcaching encantador
No dia seguinte ainda bem cedo iniciamos a subida da belíssima “Rota do Sol”, um local alucinante com uma estrada incrível e uma vista imponente da Serra.
Depois de passarmos pelo espetacular “Túnel da Reversão”, um desafio de engenharia, fizemos uma parada num mirante indescritivelmente lindo e ali fizemos o FTF em um Multicache de um amigo. É aquela conhecida história… Sem um geocaching, de repente, não iríamos parar por aqui. Portanto só agradeço pelo hide.
O local é bem bacana e cheio de opções de entretenimento. Dois mirantes, brinquedos e até uns badulaques para venda. Havia muitas nuvens que nos faziam sentir literalmente no céu.
Canyon Fortaleza
Nem paramos na cidade, fomos direto para o primeiro canyon, com intuito de pegar os mistérios, já previamente resolvidos, somente no retorno.
Cânions são vales profundos com laterais íngremes. Formados durante milhões de anos pela ação erosiva dos rios.
Em Cambará do Sul são constituídos de uma rocha ígnea vulcânica chamada basalto.
O Parque Nacional da Serra Geral fica a 23 quilômetros do centro de Cambará do Sul e o Cânion Fortaleza é considerado um dos maiores e mais bonitos do Brasil. Possui mais de sete quilômetros de extensão e dois de largura, com paredões que chegam a 980 metros de altura. O caminho até ele é uma estrada sem pavimentação que maltratou nosso carrinho alugado, ficou tão sujo de lama que tive que lavar antes de devolver.
Trilha com neblina densa / Vistas incríveis
A visita foi impressionante, em cerca de duas horas fizemos duas trilhas atrás de geocaches, numa delas consegui ainda fazer o segundo FTF do dia, em um mistério muito bacana.
O clima estava estranho, um pouco frio e com muita, mas muita neblina, impossibilitando a visualização completa da bela vista. De vez em quando a paisagem abria um pouco e dava pra ter noção do grande abismo que ali há. Parecia muito um cenário de filme de suspense, deixando o geocaching, neste caso, ainda mais legal.
Geocaching na beira de um abismo de 700m
Este canyon é mais roots e menos frequentado. Havia poucos muggles pelo local, fazendo que os passeios fossem tranquilos e as buscas sem necessidade de muita discrição.
No retorno era a hora dos “Municípios do Rio Grande do Sul“, o pequeno Powertrail foi feito com facilidade em cerca de uma hora, foi um treino que serviu pra nos sincronizarmos e definirmos a melhor estratégia para a série, bem maior, que faríamos do dia seguinte.
Pela tarde, apesar de cansados devido o dia corrido, ainda fomos achar os poucos caches urbanos para conhecer a pacata e agradável cidade. Terminamos o dia comendo e bebendo na “Pizzaria Retrô”, uma cantina com decoração temática e bem acolhedora.
Canyon Itaimbezinho
No dia seguinte saímos bem cedo e iniciamos logando alguns dos caches na ida, mas a orientação é chegar cedo no parque, já que havia limite no número de pessoas para acesso.
Chegando no Parque Aparados da Serra fomos passear no Canyon Itaimbezinho, o maior da América do Sul, uma formação rochosa de tirar o fôlego, sua estrutura é bem melhor comparada ao do dia anterior. Em suas trilhas andamos ao todo uns 9 km pelas bordas do planalto, achando geocaches e vislumbrando as paredes rochosas ornadas pelo verde exuberante da Mata Atlântica. Lá é possível ver o voo das andorinhas, aves migratórias que vem pra cá escapando do inverno no Hemisfério Norte, proporcionando um espetáculo junto às Cachoeiras.
Na cascata do Véu da Noiva dá até vertigem ao apreciar a imponente vista e o voo dos urubus. Em alguns locais é possível tomar um banho de rio, mas não tivemos coragem, talvez por preguiça mesmo, pois a caminhada foi cansativa pro meu filho Yves de dez anos.
Depois de achar todos os caches, incluso um FTF em um tradicional, retornamos à sede do parque e fizemos um gostoso piquenique no bosque, onde uma linda gralha azul, ave que foi mascote no nosso último evento nacional e é tema de um dos geocaches do geoart, veio para um “meet and greet” conosco. Consideramos isso como um presente da natureza.
Para retribuir um pouco a aventura, deixei mais quatro caches escondidos por lá, entre eles destaco dois que considerei bem interessantes. GC93WPE que é o primeiro Wherigo gaúcho e o Earthcache GC93WK2, que foi o primeiro com a temática “Planetary Geology on Earth” publicado na América do Sul (e ainda sem FTF).
No retorno para a pousada fizemos o restante dos geocaches do geoart “Aves de Cambará do Sul“, foi uma experiência bem legal. Antes de tudo ensaiamos a equipe no procedimento que seria feito, traçando a estratégia e as metas… Minha esposa era co-piloto, com função de anotar os detalhes no diário de bordo. Meu filho Yves era navegador e competentemente, com o celular na mão, me guiava pelas dezenas de caches na estrada e repassava as distâncias e dicas para encontrar. Também descia em muitos deles e me ajudava nas buscas.
Eu, além de motorista, corria, achava, assinava e repunha freneticamente os containers! Ufa! O negócio é suadouro e equivale a um bom exercício aeróbico. Ainda mais depois de passear tanto pelos parques e canyons.
Todos os caches se encontravam bem cuidados e relativamente fáceis de achar, demoramos cerca de duas horas para pegar todos.
O ponto alto deste passeio são os inúmeros animais que visualizamos, entre eles o que mais me surpreendeu foi um grande cervo que estava passeando na natureza, brincamos que ele também estava atrás de um container!
Por mais de uma vez nos alertaram para tomar atenção especial com as cobras. Utilizei um bom galho para me auxiliar nas buscas, sem risco de incidentes. Por sorte não vi nenhuma, mas pudemos apreciar diversas aves dos mais variados tipos que vinham literalmente comer em nossa mão. Tinha também répteis e pequenos mamíferos de montão.
Voltamos para Porto Alegre pela rodovia RS020, descendo a serra pelo outro lado, numa estrada ornamentada por hortênsias, que nesta época do ano florescem e enfeitam toda a vista.
Esse tour foi muito divertido. Só alegria. Passamos calor e frio, visitamos locais demasiadamente agradáveis, saboreamos boa comida e bons drinks.
Guardaremos ótimas lembranças dessa nossa incursão onde a principal motivação foi correr atrás de geocaches!
🎒 Danger_Tour_RS
➡ 7 dias
➡ 6 cidades
➡ 600 km rodados
➡ 2 geoarts
➡ 104 geocaches de 5 tipos diferentes 😀
➡ 3 FTFs
➡ 14 didn’t find it 😢
➡ 4 Souvenirs resgatados
Informações úteis
Depois que visitamos os cânions gaúchos ocorreu a privatização dos parques, o ICMBio continua monitorando e fornecendo todas as informações para facilitar sua visita. Uma coisa que achei empolgante é que no site deles consta o geocaching como uma das atividades ali permitidas!
Agora quem cuida do parque é a Urbia Cânions Verdes. Comparativamente a infraestrutura, que já era boa, melhorou. Possui guias nas trilhas e alguns deles até conhecem sobre o geocaching. A intenção da empresa é abrir novas trilhas e criar novos atrativos para melhorar o turismo. Deixar mais acessível, adequar na sinalização, instalar banheiros, quiosques, lanchonetes…
O ingresso hoje custa 50 R$ por dia ou 80 R$ para dois dias, valem para acesso aos dois parques.
O estacionamento pra você deixar seu geo-móvel custa agora 10 R$.
Não pode entrar com pets.
O Aparados da Serra (Itaimbezinho) não abre às segundas, exceto em véspera de feriado.
O Serra Geral (Fortaleza) não abre às terças, exceto em véspera de feriado.
Ambos funcionam das 8:00 às 17:00.
As estradas de acesso aos parques, onde estão os geoarts, são de terra.
Distâncias: Porto Alegre 190 km – Gramado 110 km – Florianópolis 310 km – Curitiba 590 km – São Paulo 980 km
Dicas extras
Minha sugestão é se hospedar no centro da cidade onde também podemos aproveitar os demais atrativos, as lojas de lembranças e restaurantes. As pousadas na cidade são inúmeras, sempre com a cordialidade comum do povo gaúcho.
Sugiro que reserve dois dias e duas noites para aproveitar bem a região.
Vá prestigiar Cambará do Sul! Com certeza é um lugar que deve estar no roteiro de qualquer geocacher, principalmente dos brasileiros. Pois tem tudo que envolve a melhor experiência no jogo como: Mistério, natureza, turismo, cultura e aventura.
Se preferir, entre em contato anteriormente com os owners, você pode até se propor em auxiliar numa eventual manutenção.
Bah tchê! Como bom geocacher, resolva os mistérios previamente e ademais não se preocupe. Na dúvida lembre-se do velho conselho do Danger. Apenas siga os geocaches!
Geo Hugs for all!
Ótima história! Essas duas Geoarts estão na minha lista de desejos. Enquanto não concretizo esses desejos, agradeço a postagem, que foi uma ótima leitura e alimentou minha expectativa de conhecer Cambará e seus cânions